O Fórum Natal Cidade Sustentável passa a ser uma articulação reconhecida pelo Fórum Nordeste de Reforma Urbana, durante o seminário Gênero, Reforma Urbana e Direito à Cidade e Oficina de Planejamento do FNERU, no período de 23 a 25 de abril, de 2009 em Fortaleza-CE.
"NÃO VOTE EM CORRUPTO, DENUNCIE A COMPRA DE VOTO" - TRE: 84 40065870 - COMITÊ 9840: 84 4008 9418

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Nitrato na água de Natal

Filtro de água

Imagine um filtro de água. Agora, pense no que aconteceria se, aos poucos, o dono do filtro fosse cobrindo partes da vela com material impermeável, de forma que ela fosse perdendo a capacidade de filtragem. E como ficaria a qualidade da água se o dono do filtro decidisse fazer alguns buracos na parte inferior deste para jogar ali um pouco de urina e fezes todos os dias?

É exatamente isso que vem acontecendo em Natal e diversas cidades do Nordeste que foram construídas em regiões de dunas e têm a sorte de possuir imensos lençóis freáticos.

A estimativa, segundo pesquisadores da UFRN, é de que, a cada ano, apenas a capital do Rio Grande do Norte jogue cerca de 42 milhões de metros cúbicos de esgoto nesse imenso filtro natural, denominado Sistema Aqüífero Dunas/Barreiras.

Mas, de acordo com o presidente da Associação de Geólogos do Rio Grande do Norte, esse número pode ser bem maior. “Não se tem controle sobre o número de fossas e poços clandestinos existentes na cidade. Sendo assim, não se sabe ao certo a quantidade de água que vem sendo extraída do aqüífero nem a quantidade de esgoto jogado. Trabalha-se muito com estimativas”, explica o geólogo.

Para João de Deus, a menos que medidas sejam adotadas com urgência e levando-se em consideração os índices de contaminação da água, “dentro de 10 a 15 anos, a cidade viverá um colapso de abastecimento. Nós estamos matando a nossa galinha de ovos de ouro”, conclui.

No entanto, para muitas pessoas, inclusive geólogos e autoridades, entre elas o secretário de Recursos Hídricos do estado, Josemar de Azevedo, 63, a contaminação do lençol freático só acontece quando as fossas são mal construídas, tanto que existem pontos de captação de água localizados ao lado de grandes fossas.

Entretanto, para o professor Geraldo Melo, esse é um discurso mais político do que técnico e que acaba perpetuando a falta de preocupação e de investimento no tratamento dos efluentes e na preservação da água. “As pessoas que defendem essa tese não possuem o conhecimento necessário sobre o assunto. Os estudos mostram que o Sistema Aqüífero Dunas/Barreiras é um sistema único. A contaminação não se deve a fossas mal construídas, mas à fragilidade do sistema (Dunas/Barreiras) e à persistência em jogar o esgoto no subsolo. É por isso que mesmo as áreas onde já existe rede de esgoto (15% da cidade) continuam contaminadas”, esclarece Melo.

Para o professor, essa visão distorcida acaba fazendo com que o pouco investimento feito no setor de preservação muitas vezes seja ineficaz, podendo até mesmo ser mais prejudicial do que benéfico. “As lagoas de estabilização, que deveriam ajudar, estão, na realidade, poluindo ainda mais. É preciso fazer um estudo de impacto antes de realizar obras desse porte. Não basta verificar se a região é pouco habitada”, diz Melo. Segundo o professor, para minimizar os riscos de contaminação em pontos de captação de água, é necessário levar em consideração o movimento das águas no subsolo: “Sistemas como esse deveriam estar mais próximos das áreas de escoamento e não de captação”.

Apenas para o leitor entender melhor, mantidas as devidas características e proporções, se fôssemos pensar no sistema aqüífero como se ele fosse um rio, o que está sendo feito seria mais ou menos como jogar a água poluída da cidade a alguns metros acima do ponto de captação da água para tratamento e abastecimento.

Mas o secretário de Recursos Hídricos do estado não concorda com Geraldo Melo. “Isso é uma tese dele, que não tem qualquer base científica. Não há nenhuma comprovação de que as lagoas de estabilização estejam poluindo o lençol freático”, diz Josemar de Azevedo.

Independentemente da discussão entre governo, geólogos e pesquisadores, o custo de todo esse descaso promete ser elevado. Atualmente, para se conseguir água potável que não contenha nitrato, empresas especializadas em perfuração são obrigadas a cavar mais de 150 metros de profundidade. “Há vinte anos, quando fundei minha empresa, com 60 metros já se obtinha água mineral com um padrão de qualidade invejável em todo o mundo. Hoje, em boa parte da cidade, para se conseguir água que não esteja contaminada, é preciso perfurar o solo por 150 metros. Ou seja, já estou perfurando o cascalho”, diz o empresário Marcos Antonio da Silva, 50.

Segundo ele, uma vez que o lençol freático está poluído, essa é a única forma de se conseguir água de boa qualidade nas áreas de maior contaminação. Apesar de a água ainda não estar poluída a 150 metros de profundidade, o sistema de perfuração do cascalho apresenta algumas desvantagens. A primeira é o preço. Um poço de 150 metros de profundidade custa mais do que o dobro de um de 100 metros. A segunda é a vazão. “No cascalho, conseguimos bombear muito menos água. Esse tipo de poço pode ser usado por particulares, hotéis ou pousadas, mas, devido à baixa vazão, ele não poderia ser usado, por exemplo, para o abastecimento da cidade, que requer muito mais água”, explica o empresário. De acordo com Marcos, como em Natal não há tratamento de água, para conseguir manter os índices da água dentro de padrões aceitáveis, a CAERN está simplesmente misturando água de poços que ainda não estejam muito contaminados com a de poços com altíssimo teor de nitrato.


artigo tirado do site http://www.aprendebrasil.com.br/reportagens/natal/filtro.asp

Nenhum comentário:

Operação Impacto - Nota dos movimentos sociais

OPERAÇÃO IMPACTO - NOTA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS QUE COMPÕEM O FORÚM NATAL CIDADE SUSTENTÁVEL

"VOTO NÃO TEM PREÇO, TEM CONSEQÜÊNCIA"*

Os movimentos sociais e as entidades do campo popular e democrático que atuam na cidade de Natal, defendendo a construção de uma cidade socialmente justa e com qualidade de vida para todas as pessoas, vêm em público manifestar solidariedade ao Ministério Público e apoio às ações que fizeram a Operação Impacto dar resultado.

Durante o ano em que transcorreram as investigações e apuração das denúncias, as entidades, sindicatos, organizações e redes articuladas no Fórum Natal Cidade Sustentável, não esmoreceram da confiança de que o resultado sairia a tempo de alcançar as eleições municipais e de punir os envolvidos, tendo em vista que este resultado estabelece um desafio para o amadurecimento político de nossa Câmara de Vereadores, dos eleitores, enfim para a democracia representativa em Natal.

É válido recordar que, quando terminada a campanha eleitoral de 2004, várias entidades, intelectuais e articulistas políticos avaliaram que nunca em sua história Natal teve uma representação de vereadores com tamanha despolitização e despreparo para a vida parlamentar, considerando-se os princípios mínimos da ética e do compromisso social na Política, guardadas raras exceções. Essas características, aliadas à má intenção, ao fisiologismo e à falta de compromisso para com o patrimônio público e com o povo pioram ainda mais a qualidade dessa representatividade e da democracia. A própria Operação Impacto comprova isso: em 2007, a população natalense assistiu, através dos meios de comunicação, a um dos maiores escândalos políticos de Natal a partir da disputa acirrada pelos rumos da nossa cidade, através da revisão do Plano Diretor. Lembremos que tal disputa – disputa por território - envolve a própria qualidade de vida dos natalenses, nos aspectos ambientais, da moradia e dos serviços públicos. E ela não se estabeleceu pelo diálogo aberto e limpo entre as visões dos grupos implicados no processo de revisão do Plano, mas sim pela negociação ilícita materializada na compra de votos. Enquanto os movimentos sociais se reuniam com técnicos e especialistas dos diferentes temas em discussão, com os grupos e organizações sociais nos bairros e comunidades da cidade, realizando discussões sobre as Emendas propostas pelo legislativo, os empresários do setor imobiliário se articulavam com os vereadores em barganhas acintosas para o ambiente democrático que precisamos defender.

O Fórum Natal Cidade Sustentável é composto por um conjunto de organizações não-governamentais, grupos e organizações sociais verdadeiramente preocupados com a cidade e empenhados em exercer o controle social sobre as Políticas Públicas em Natal. Participamos de todas as etapas de formulação da proposta de revisão do Plano Diretor de Natal, desde as primeiras atividades até os momentos dramáticos de votação do Plano na Câmara Municipal, que desaguaram na Operação Impacto.

Diante disso, continuamos acompanhando o processo e aguardando a punição de todos os envolvidos. Acreditamos no trabalho da Justiça, no sentido de garantir os direitos coletivos da sociedade natalense e de contribuir para a reconstrução de princípios éticos na Política, qualificando assim o processo eleitoral nas eleições de 2008.

O Brasil é um Estado laico e republicano com eleições livres e diretas, este são os princípios que defendemos e que precisamos garantir. Voto não tem preço, tem conseqüência.

Natal, 25 de julho de 2008.

Organizações, entidades e movimentos que compõem o Fórum Natal Cidade Sustentável:

AMB - Articulação de Mulheres Brasileiras
Centro Sócio Pastoral Nossa Senhora da Conceição - Mãe Luiza
Coletivo Leila Diniz
CMP- Central dos Movimentos Populares
Conselho Comunitário de Ponta Negra
CUT- Central única dos Trabalhadores
DCE- Diretório Central de Estudantes da UFRN
Fórum Estadual de Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes - Fórum DECA/RN
Fórum de Mulheres do RN

Fundação Fé e Alegria - RN
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas
PDA Caminhos do Sol/ Visão Mundial
Posse de Hip-Hop Lelo Melodia
Sindicado dos transportes opcionais e alternativos do RN - SITOPARN
SOS Mangue


* Lema do COMITÊ 9840